FRONTEIRAS DA ARQUITECTURA PAISAGISTA EM PORTUGAL

para além do plano e do projecto.

Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas
Coordenado por Clara Ponte e Sousa


AUTORES

Clara Ponte e Sousa, Arquiteta Paisagista

Jorge Cancela, Arquiteto Paisagista (U.Évora)

Rosário Oliveira, Investigadora

Filipa Almeida, Arquiteta Paisagista e Apicultora Profissional

Claudia Schwarzer, Arquiteta Paisagista

Maria Matos Silva, Arquiteta Paisagista

Margarida Almodovar, Arquiteta Paisagista

Sónia Talhé Azambuja, Arquiteta Paisagista (ISA/ULisboa)

Carlos Correia Dias, Arquiteto Paisagista

Teresa Bettencourt da Camara, Arquiteta Paisagista (ISA/ULisboa)

Sandra Mesquita, Arquiteta Paisagista

Rui Monteiro, Arquiteto Paisagista

Vera Ramos, Arquiteta Paisagista

Maria Aragão, Arquiteta Paisagista

João Ceregeiro, Arquiteto Paisagista

Vítor Fernando Guerreiro da Silva, Arquiteto Paisagista

Teresa Chambel, Arquiteta Paisagista

Duarte Natário, Arquitecto Paisagista


A paisagem é o espelho mais profundo e a mais indesmentível resultante do modo como passamos no mundo. Ela constitui um juízo determinante da nossa responsabilidade perante as gerações futuras e as que nos antecederam e dá-nos nisso uma equação da sustentabilidade.

Contudo, a sua dimensão estética e emotiva coloca-a muitas vezes num plano longínquo de pequenos quadros distantes que inspiram mais a contemplação do que a acção, e acabamos muitas vezes por negligenciar a paisagem perdendo-a no meio dos objectivos práticos das exigências imediatas do dia-a-dia.

Abre-se assim um intervalo entre a importância vital que a paisagem tem para todos e cada um de nós, e o reconhecimento da nossa responsabilidade efectiva perante ela.

É por esta razão que políticas públicas internacionais, comunitárias e nacionais se têm sucedido em cartas, convenções, orientações, directivas... tudo para a defesa dos valores da paisagem e da paisagem como valor. Mas a este reconhecimento não tem correspondido uma cultura pública de paisagem integrada e articulada como suporte necessário da sustentabilidade de todas as políticas. É justamente no espaço intermédio que se abre entre o horizonte dos objectivos das políticas de paisagem e o sentimento individual e colectivo do seu valor que a falta dessa cultura pública de paisagem - activa, dinâmica e responsável - se apresenta de forma mais premente entre nós.

É neste sentido que os arquitectos paisagistas e particularmente a Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP) têm vindo a desenvolver trabalho pedagógico e cívico de grande mérito apoiado pelo valor dos notáveis mestres que a Arquitectura Paisagista entre nós felizmente tem tido com nomes como Francisco Caldeira Cabral, Gonçalo Ribeiro Telles, Ilídio Araújo, para não citar nenhum dos que ainda estão activos, e que basearam o seu saber na ciência ecológica e nos conhecimentos tradicionais enraizados de norte a sul do país e nas ilhas.

O propósito e o plano de trabalhos estão contudo longe de ser fáceis pois, tal como acontece em todos os domínios científicos na actualidade, eles desenham-se na complexidade e na capacidade para travessias interdisciplinares. É essa a nossa fascinante, mas muito exigente, condição da ciência actual. E também a indispensável base para a mobilização cívica em vista a uma cultura pública de paisagem consequente e sustentável.

É precisamente nesse sentido que este livro traz um belo contributo. Dentro do amplo leque de dimensões que a cultura pública de paisagem tem necessariamente de assumir, e numa perspectiva vasta e abrangente - entre arte e beleza, ciência e bem comum -, este livro consegue a proeza de abarcar a grande diversidade disciplinar da arquitectura paisagista acentuando ao mesmo tempo a sua unidade e fazendo-o de uma forma que nunca abandona a dimensão estética central do tema da paisagem. Dos novos serviços dos ecossistemas aos impactos das alterações climáticas; da paisagem alimentar à sustentação das abelhas; dos planos das águas doces e salgadas à paisagem como arte; da dimensão social e cívica da paisagem ao seu papel para a saúde.

Acessível, sem deixar de ser rigoroso, amplo sem ser vago, este é o tipo de abordagem necessária, indispensável e oportuna, sem a qual uma verdadeira cultura pública de paisagem não poderá ter base de sustentabilidade nem esperança. Mais ainda num país como Portugal que, apesar do muito que tem visto destruir-se, guarda ainda no seu património - e acima de tudo no seu coração - uma ideia encantada de si quando se pensa como paisagem.

Luísa Schmidt, ICS-ULisboa